Como parar de viver ressentido: Nietzsche, psicanálise e o desafio de desejar a própria vida
O ressentimento é uma paixão degradada. Uma forma de tornar suportável a impotência diante daquilo que se deseja, mas não se pode realizar. Friedrich Nietzsche o trata como a afecção moral por excelência do homem moderno: aquele que não age, mas reage; que não cria, mas acusa; que não deseja, mas inveja. O ressentido, para Nietzsche, é o sujeito que substitui a força afirmativa do desejo por um tribunal simbólico que culpa o outro por sua miséria interior. Incapaz de transformar a si mesmo, ele constrói uma moral em que a fraqueza é virtude e a renúncia é nobreza. É o escravo que transforma seu cativeiro em mérito, porque não suporta reconhecer que lhe falta potência para romper as correntes.
Na psicanálise, o ressentimento aparece como uma fixação imaginária a uma cena passada que não foi simbolizada. Um gozo tóxico que se repete no silêncio da fala e na ruminação sem fim. O sujeito ressentido não se submete à travessia do tempo: ele se prende à queixa, à injustiça, ao papel de vítima, e constrói uma narrativa em que sua dor é sempre culpa do outro. Ao fazer isso, ele protege o sintoma — e recusa o desejo. Pois desejar exige risco, exposição, desorganização do Eu. E o ressentido prefere a estabilidade mórbida de seu rancor à incerteza criativa do devir.
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