A cultura da resiliência nos ensinou a aplaudir quem segue em frente sem chorar. Confundimos estoicismo com sabedoria, desapego com iluminação, distanciamento emocional com maturidade. Mas nem todo silêncio é sinal de paz. Muitas vezes, é o disfarce de uma guerra vencida ao custo da sensibilidade. A máscara da evolução pode ocultar um congelamento afetivo: a frieza como refúgio diante de vínculos que um dia doeram demais.
A psicanálise já advertia: há sintomas que se fazem passar por virtudes. Lacan alertava para o risco da “adaptação patológica” — quando o sujeito se ajusta tão bem ao real que se perde de si. O que parece maturidade pode ser, na verdade, o triunfo do recalque. Um eu que, para não sofrer, amputou partes inteiras do sentir. O sujeito bem adaptado demais talvez esteja apenas bem morto demais — emocionalmente.
Esse fenômeno se acentua nos sujeitos que, em algum momento da infância, aprenderam que o excesso de emoção traz punição. Crianças que foram chamadas de frágeis ao chorar, dramáticas ao sofrer, ingratas ao desejar. Diante disso, organizam-se psiquicamente para não incomodar. Crescem com um orgulho estranho: o de não precisar de nada. São adultas que oferecem o silêncio como resposta, o afastamento como autocuidado, a frieza como ética relacional.
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