Manual da Vida Adulta

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O Desejo de Ser Normal como Sintoma

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A normalidade como máscara do controle, da dor e da desistência de si

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Torresmo
abr 15, 2025
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O Desejo de Ser Normal como Sintoma
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I. Introdução: A armadilha da régua invisível

Ser normal.

Falar como os outros. Ter desejos razoáveis. Estar emocionalmente estável. Ter uma vida “em ordem”, previsível, padronizada.

Pedir pouco. Reclamar pouco. Causar pouco.

O desejo de normalidade parece inofensivo — até mesmo saudável. Mas carrega em si um dos sintomas mais silenciosos da subjetividade contemporânea: o apagamento do que há de mais singular, caótico, dissonante e vivo em cada sujeito.

Este ensaio parte da provocação fundamental: e se o desejo de ser normal for, ele mesmo, uma resposta patológica à violência simbólica do mundo?

E se o que chamamos de “normalidade” for apenas uma forma socialmente aceita de neurose adaptativa?

E se, no fundo, esse desejo for o sintoma de uma desistência — da própria diferença, da própria dor, da própria história?

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II. Foucault: normalizar é governar

Para Michel Foucault, o ideal de normalidade não é neutro — é uma ferramenta de poder. Através da produção de normas — médicas, escolares, jurídicas, estéticas — o sistema opera uma forma de controle difuso sobre os corpos, os gestos e os afetos.

Esse processo se dá por meio do que ele chama de biopoder: o poder que não se impõe com violência física, mas que regula a vida a partir de parâmetros do que é considerado sadio, funcional e aceitável. A norma, então, não é apenas uma média estatística — é uma moldura ideológica.

E aqui reside o ponto mais crítico: ao internalizarmos essa norma como desejo, passamos a vigiar a nós mesmos. Queremos ser “normais” não apenas para sermos aceitos, mas para não sermos punidos. Não sermos vistos como problema. Não causar desconforto.

A normalidade, assim, se torna um código disciplinar: quem o descumpre, paga com exclusão simbólica — ou com autossilenciamento.

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III. Lacan: o sujeito é o que escapa da norma

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