Manual da Vida Adulta

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O prazer de ser mal interpretado: quando não ser compreendido é uma forma de proteção

O prazer de ser mal interpretado: quando não ser compreendido é uma forma de proteção

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Torresmo
jun 22, 2025
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O prazer de ser mal interpretado: quando não ser compreendido é uma forma de proteção
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Há quem fale demais e diga quase nada. Há quem se exponha com veemência e mantenha tudo essencial encoberto. Certos sujeitos transformam a própria linguagem numa cortina de fumaça: elegante, articulada, sedutora, mas cuidadosamente ambígua. No fundo, não querem ser entendidos. Desejam ser vistos, mas não decifrados. Querem provocar impacto, mas manter o controle. A má interpretação, nesse cenário, não é um acidente. É um recurso. Ser lido de maneira imprecisa pode ser mais confortável do que ser compreendido com nitidez.

Ser mal interpretado permite manter o poder simbólico. O sujeito se esquiva de intimidade, de responsabilização e de qualquer exposição real. Frases como “não foi isso que eu quis dizer”, “você entendeu errado” ou “é só uma provocação” funcionam como escudos. O discurso se torna um jogo, e o jogo garante distância. Ser compreendido, muitas vezes, é ser capturado. E quem aprendeu a sobreviver na margem entre o íntimo e o impenetrável, prefere ser lido com ruído a ser despido diante do olhar do outro.

Isso aparece com frequência nas relações afetivas e no discurso público. O sujeito fala, mas em código. Lança frases ambíguas, escreve textos cifrados, compartilha ideias que admitem múltiplas leituras. Quanto mais os outros tentam decifrar, mais ele se fortalece. Porque ali ainda controla o campo de sentido. Ser mal interpretado frustra o outro, mas alimenta uma forma refinada de prazer narcísico. Ninguém me alcança, e que bom que não alcançam.

Essa defesa não surge do nada. Costuma ter raízes em experiências onde ser compreendido foi sinônimo de exposição, obrigação ou abandono. Quando a escuta do outro se transforma em instrumento de controle, o sujeito aprende a se proteger com opacidade. Fala com beleza, mas não se revela. Provoca, mas não se compromete. Deixa brechas e recuos em cada frase. Se alguém ler de forma errada, ótimo. Ainda pode se esconder.

Só que esse modo de existir tem um custo alto. O sujeito, mesmo no centro das atenções, sente-se invisível. É admirado, mas não tocado. É seguido, mas não escutado. Quando alguém se aproxima com precisão, ele muda o tom. Torna tudo cômico, digressivo, inatingível. Depois, repete a queixa: ninguém me entende. Mas a blindagem não vem de fora. Ele próprio constrói a linguagem que impede a aproximação.

Como distinguir linguagem sofisticada de proteção inconsciente, e desativar o prazer de ser mal lido:

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