A amizade não obedece ao tempo linear nem à lógica econômica que organiza as trocas cotidianas. Persiste como experiência paradoxal: nasce do acaso, floresce no silêncio e frequentemente sobrevive à distância com mais vigor do que na presença constante. Aquilo que une duas pessoas em afinidade não se resume a interesses ou convenções, mas emerge de uma sintonia pré-verbal, um reconhecimento sutil que antecede qualquer discurso, como sugeria Roland Barthes ao pensar a comunicação que escapa às palavras e se estabelece no olhar, na entonação, no não-dito.
Quando o fluxo da vida altera a frequência dos encontros, o vínculo verdadeiro não se dissolve com a mesma facilidade com que se perdem rotinas. A relação pode sofrer erosão, degradar-se pela falta de contato, mas a amizade autêntica repousa em um solo mais profundo do que a regularidade dos telefonemas ou a frequência das visitas. Como descreve Maurice Blanchot, a amizade reside em uma promessa silenciosa que prescinde de provas constantes, sustentando-se na possibilidade de permanecer em suspensão, de existir no intervalo.
A modernidade, marcada por imperativos de performance e pela aceleração dos ciclos de trabalho e consumo, tornou-se terreno fértil para relações descartáveis, para laços que se apagam na mesma velocidade com que se estabelecem. Byung-Chul Han descreve essa era como a do “desgaste do outro”, em que vínculos frágeis são reflexo de uma sociedade que prioriza a eficiência e a autoexposição, desprezando o cuidado que exige tempo e paciência.
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